Os materiais Montessori são projetados para a autoeducação, reconhecendo assim que a criança tem a capacidade de aprender sozinha quando a mesma é exposta aos estímulos e materiais certos, dotados de características que facilitem a sua autocorreção. Assim, considerando que cada material trabalha um desafio de cada vez e que foca apenas uma qualidade, a criança, ao manipulá-los, consegue ter a percepção dos seus erros. Podendo-se afirmar que os materiais desenvolvidos e aperfeiçoados por Maria Montessori facilitam a autocorreção, possibilitam a autoeducação, contribuindo para a liberdade, independência e desenvolvimento da criança.
“O controle do erro passa a ser um guia que nos informa se estamos no caminho certo.” (Maria Montessori, 1949, p. 296)
Olhando de uma forma mais atenta, o controle do erro está no próprio material e guia a criança durante o manuseio do mesmo, o que permite que a criança identifique e reconheça os seus próprios erros, com isso o material possibilita a compreensão da criança com o mesmo, colocando-a no centro do processo de aprendizagem.
É fundamental que a criança repita o exercício, de trabalhar de forma livre sem exigências, ou seja, é importante facilitar e promover tempo para a criança trabalhar a sua vontade, poder corrigir-se e sentir-se segura e para que se torne capaz de reconhecer as suas próprias possibilidades e habilidades, percorrendo um caminho individual com objetivo à própria perfeição.
Um material que oferece um controle do erro bem visível é o dos encaixes sólidos. Neste material a criança manuseia cilindros de tamanho diferentes para encaixá-los nos lugares correspondentes, permitindo assim o controle de erro, pois em caso de um encaixe incorreto, imediatamente a criança identifica a irregularidade, pois a mesma é visível e palpável no material. Este exercício pode ser composto por blocos distintos capacitando a criança ao reconhecimento da diferença de dimensões, promovendo também a repetição, concentração e a autocorreção.
O intuito de autocorreção ajuda a criança a ter consciência dos erros, compreendendo-os como parte do processo, motivando a mesma a resolver problemas e encontrar soluções por conta própria. A harmonia entre ambiente preparado, materiais e professor como mediador, contribui para a espontaneidade e independência, satisfazendo as necessidades internas da criança, reconhecendo em si um ser racional e crítico num percurso de aprendizagem e desenvolvimento em direção à autoperfeição.
O conceito de autoeducação no controle do erro
A autoeducação é vista como a prática diária de qualquer escola que siga a metodologia montessoriana. Isto porque, no espaço e tempo devidos, com o acompanhamento de um adulto preparado e estando em contato com os materiais adequados, a criança tem oportunidade de aprender, educar-se, sem interferência externa.
Com esse parâmetro, todos os materiais evidenciarão os erros cometidos, sinalizando que algo precisa ser modificado, para que a atividade tenha um fim. Tudo vai se organizando para o caminho da autocorreção, inclusive o ambiente.
E quanto ao papel do professor? Bem, ao professor cabe observar e garantir que esse processo ocorra de forma gradativa, sem interferir diretamente. A ele não cabe corrigir o aluno, mas garantir que o aluno siga na jornada da autoeducação e do autodesenvolvimento sem obstáculos.
A proposta dos materiais montessorianos
Os materiais montessorianos, não são brinquedos, são instrumentos didáticos projetados para propiciar a compreensão da linguagem, da matemática e de outras áreas do conhecimento. Todos eles trazem o fator autocorretivo, a partir do qual o controle do erro se torna possível para a criança.
Dessa forma, o professor não precisa apontar o que está errado e interromper o processo de aprendizagem. O aluno chega a essa conclusão por meio de tentativas e erros.
Essa dinâmica, que é repetida na escola, dia após dia, permitindo que os alunos evoluam em seus raciocínios e se adaptem a novas situações, procurando resolver o erro e superá-lo a fim de seguir em frente.
A resiliência a frustrações
Uma lição valiosa ensinada pelo controle do erro é a resiliência às frustrações, pois é comum que crianças com muito acesso a tecnologias aprendam a esperar soluções rápidas aos desafios que encontram no dia a dia. Porém, nós adultos sabemos que a frustração é parte natural da vida, e saber superá-la é uma das habilidades essenciais para um desenvolvimento sócio emocional saudável.
Na sala de aula, com os materiais multissensoriais e as atividades de vida prática, o aluno pode vivenciar esse sentimento em um ambiente preparado, ajudando a transpor a barreira da frustração, não evitando-a, mas sabendo lidar com ela sem paralisar, desistir ou ficar com raiva. Neste sentido, o controle do erro contribui também para a maturação emocional infantil.
É importante entender também que o controle de erro ajuda a criança a controlar a si mesma, através de atividades seqüenciadas, da repetição de acertos e correção dos próprios erros. O professor ou adulto apresenta o material e a criança observa detalhe a detalhe e permite que ela busque em si a realização do exercício. Desbravar a própria frustração é um excelente exercício para a construção da personalidade, ao invés de encarar a frustração imposta por uma pessoa maior e mais competente que resolve tudo, aos olhos da criança.
O controle do erro no trabalho e no comportamento
Quando falamos que o professor não interfere diretamente na aprendizagem dos alunos, uma vez que os materiais e até o ambiente são autocorretivos, estamos falando do controle do erro no trabalho.
No manuseio dos materiais e nas atividades de vida prática, o objetivo é que o aluno se auto eduque e que conquiste sua independência, sem precisar do suporte de um adulto o tempo todo.
Contudo, quando há um desajuste no comportamento, quando o aluno agride os colegas, faz birra, quebra material, espalha peças de propósito e age de forma a colocar a si mesmo ou outros em risco, o professor deve interferir com firmeza e assertividade.É preciso fazer essa distinção, pois muitos pais, ao lerem sobre autoeducação, pensam que o professor é um observador em qualquer situação, isso é verdadeiro em relação à aprendizagem, mas não em relação à comportamentos inadequados.
Quando situações como essas acontecem, o professor intervém até que a criança recupere seu equilíbrio. Se isso acontece por frustração com o erro ou pela incapacidade de levar adiante uma tarefa, o aluno é encaminhado a um desafio mais simples, geralmente já dominado por ele e de sua preferência, a fim de se normalizar. Maria Montessori falava muito em darmos independência e autonomia às crianças, mas assegurava que ambas devem ter como base a responsabilidade consigo mesmo, com o mundo e com os outros.
A evolução do controle do erro
O controle do erro evolui à medida que os materiais vão ficando mais complexos e abstratos. Os materiais são feitos de forma exata e precisa, sendo que ou o aluno acerta ou erra.
No início, os erros ficam bem evidentes, porém, torna-se mais sutil ao longo dos anos, para que as crianças ampliem seu senso crítico, agucem sua percepção e treinem sua capacidade de isolamento de erro, mesmo quando ele não é óbvio. O controle do erro na metodologia montessoriana, concretiza-se por meio dos materiais sensoriais, do ambiente e do adulto preparado. Essa dinâmica potencializa a aprendizagem e torna possível a autoeducação tal qual defendida por Maria Montessori.
Assim, o caminho até o objetivo da educação montessoriana, que é uma criança plena e equilibrada, é fortalecido pelo erro e pelo aspecto autocorretivo das atividades.
REFERÊNCIAS
Maria Montessori, 1949, p. 296
Mente absorvente – (tradução de Wilma Freitas Ronald de Carvalho). Rio de Janeiro. Editora Nórdica, 1949
Montessori, 1949, p. 270
Montessoriporto.org visitado em 01/11/2021